Essa história que aconteceu em minha cidade é verídica eu tinha 5 anos e me lembro de alguma coisa!
"A cidade de Ibatiba tinha acabado de comemorar o seu terceiro ano de emancipação política. Era uma tarde de sexta-feira, dia 30 de novembro de 1983, quando a tranquilidade dos cerca de 3 mil habitantes à época foi quebrada por sete homens fortemente armados, integrantes da facção criminosa Falange Vermelha, do Rio de Janeiro, que deu origem ao Comando Vermelho. Armados de escopeta, carabina, revólver e ainda uma metralhadora , eles invadiram a agência do Banestes – a única da cidade naquele tempo –, renderam os funcionários e vigilantes e saquearam os caixas e os cofres, levando cerca de CR$ 3,5 milhões de cruzeiros (moeda da época).
Ao saírem da agência, os bandidos encontraram quatro policiais militares que faziam o patrulhamento a pé e começou, aí, a troca de tiros – no tiroteio saíram feridos três policiais e o soldado José Pires de Andrade, 32 anos, casado, pai de duas filhas – uma com 5 e a outra com 3 anos e a esposa grávida de dois meses –, acabou sendo morto pelos marginais que fugiram pela BR-262, que atravessa a cidade. A uma ação durou pouco mais de 20 minutos.
O assassinato do PM comoveu a cidade, ele era bem quisto pela população e tinha recebido uma homenagem na festa pelos serviços prestados ao município. Na fuga , os assaltantes fugiram por Iúna, passando por Guaçuí , Bom Jesus do Norte e seguiram para o Norte do Estado do Rio de Janeiro.
Uma operação conjunta de policiais militares de Campos dos Goytacazes e do 3º Batalhão da PMES (Alegre) resultou nas prisões de cinco dos sete assaltantes, que foram levados para Alegre e depois transferidos para a cadeia de Iúna, já no sábado.
O então delegado de Ibatiba, Joaquim Florindo Neto, decidiu que na segunda-feira o assalto seria reconstituído e a notícia correu pela cidade. Na manhã de segunda-feira, quando os presos chegaram nas proximidades da agência assaltada, cerca de 500 pessoas, armadas de facas, facões, canivetes, martelos, espetos de churrasco e tesouras esperavam os criminosos . À força, eles retiraram os acusados do interior das viaturas da PM e, em menos de 10 minutos, os assaltantes foram linchados pela multidão enfurecida formada por homens , mulheres e até crianças. Uma multidão que não pode ser contida pelo aparato policial.
Após o linchamento os corpos de Severino Sales do Nascimento – fugitivo do sistema penitenciário carioca e condenado a 400 anos de prisão –, Edson Nascimento da Silva –, também fugitivo com pena de 35 anos cumprir –, Roberto do Nascimento Monção – com apenas 18 anos de idade na época, ele já tinha condenação de 564 anos –, José Luiz Nascimento e Roberto da Silva ficaram expostos em um canteiro às margens da BR 262 até a chegada da perícia técnica da Polícia Civil, que saiu de Vitoria, e da imprensa.
Na época, o então Secretário de Estado da Segurança Pública, Dirceu Cardoso, que estava junto com o juiz da Comarca de Iúna, Mauro Soares de Freitas, e do promotor de Justiça Marco Aurélio Araújo Reis, ao ser indagado pela imprensa no local onde se encontraram os corpos sobre o linchamento, foi curto e grosso: "Vox populi, vox Dei" – a voz do povo é a voz de Deus.
Como sempre, um inquérito policial foi aberto para apontar os culpados pelo linchamento, mas consta-se que ele foi arquivado sem que nenhum dos participantes do ocorrido tenha sido indiciado."
(Texto do linchamento em Ibatida é do jornalista Sérgio Neves, que foi testemunha do tragédia.)
Há quase 30 anos, o Espírito Santo foi destaque na mídia nacional como o Estado em que a população, desacreditada nas instituições e revoltada com a morte de um policial militar, retirou cinco assaltantes de banco de dentro de uma viatura e os matou em praça pública, na porta da Delegacia de Ibatiba, município localizado na Região do Caparaó, na divisa com Minas Gerais.
O País vivia ainda nos anos de chumbo, sob a ditadura militar. Em 1985, a ditadura chegou ao fim e três anos depois o Brasil pode saborear uma nova Constituição, a chamada Constituição Cidadão.
Três décadas se passaram e o descrédito da população capixaba – e do restante do País também – com as instituições aumentou ainda mais. Em menos de um mês o Espírito Santo foi palco de dois linchamentos.
No dia 24 de maio, o motorista de um caminhão João Querino de Paula, 51 anos, foi perseguido por moradores no bairro Morada da Barra, em Vila Velha, depois de atropelar e matar a menina Ávila Fantini, de 2 anos. Um dos linchadores, tio da menina, atirou uma pedra de mais de 10 quilos sobre a cabeça de João Querino, que não teve culpa do acidente e trabalhava como caminhoneiro de uma empresa de material de e construção por 27 anos. O acidente que matou a menina foi uma fatalidade.Quatro dias depois, o lanterneiro Gilmarcam Messine, 24 anos, que havia estuprado e matado a menina Kevelim de Souza, 10 anos, foi linchado até a morte em Vargem Alta.
O verbo linchar no dicionário Aurélio significa “justiçar ou executar sumariamente, sem qualquer espécie de julgamento legal”. Os autores de um linchamento praticam tal barbárie porque estão cansados da impunidade; porque sabem que estão matando alguém que raramente seria punido com rigor.
No linchamento de Ibatiba, o que prevaleceu foi "a voz do povo é a voz de Deus"
"A cidade de Ibatiba tinha acabado de comemorar o seu terceiro ano de emancipação política. Era uma tarde de sexta-feira, dia 30 de novembro de 1983, quando a tranquilidade dos cerca de 3 mil habitantes à época foi quebrada por sete homens fortemente armados, integrantes da facção criminosa Falange Vermelha, do Rio de Janeiro, que deu origem ao Comando Vermelho. Armados de escopeta, carabina, revólver e ainda uma metralhadora , eles invadiram a agência do Banestes – a única da cidade naquele tempo –, renderam os funcionários e vigilantes e saquearam os caixas e os cofres, levando cerca de CR$ 3,5 milhões de cruzeiros (moeda da época).
Ao saírem da agência, os bandidos encontraram quatro policiais militares que faziam o patrulhamento a pé e começou, aí, a troca de tiros – no tiroteio saíram feridos três policiais e o soldado José Pires de Andrade, 32 anos, casado, pai de duas filhas – uma com 5 e a outra com 3 anos e a esposa grávida de dois meses –, acabou sendo morto pelos marginais que fugiram pela BR-262, que atravessa a cidade. A uma ação durou pouco mais de 20 minutos.
O assassinato do PM comoveu a cidade, ele era bem quisto pela população e tinha recebido uma homenagem na festa pelos serviços prestados ao município. Na fuga , os assaltantes fugiram por Iúna, passando por Guaçuí , Bom Jesus do Norte e seguiram para o Norte do Estado do Rio de Janeiro.
Uma operação conjunta de policiais militares de Campos dos Goytacazes e do 3º Batalhão da PMES (Alegre) resultou nas prisões de cinco dos sete assaltantes, que foram levados para Alegre e depois transferidos para a cadeia de Iúna, já no sábado.
O então delegado de Ibatiba, Joaquim Florindo Neto, decidiu que na segunda-feira o assalto seria reconstituído e a notícia correu pela cidade. Na manhã de segunda-feira, quando os presos chegaram nas proximidades da agência assaltada, cerca de 500 pessoas, armadas de facas, facões, canivetes, martelos, espetos de churrasco e tesouras esperavam os criminosos . À força, eles retiraram os acusados do interior das viaturas da PM e, em menos de 10 minutos, os assaltantes foram linchados pela multidão enfurecida formada por homens , mulheres e até crianças. Uma multidão que não pode ser contida pelo aparato policial.
Após o linchamento os corpos de Severino Sales do Nascimento – fugitivo do sistema penitenciário carioca e condenado a 400 anos de prisão –, Edson Nascimento da Silva –, também fugitivo com pena de 35 anos cumprir –, Roberto do Nascimento Monção – com apenas 18 anos de idade na época, ele já tinha condenação de 564 anos –, José Luiz Nascimento e Roberto da Silva ficaram expostos em um canteiro às margens da BR 262 até a chegada da perícia técnica da Polícia Civil, que saiu de Vitoria, e da imprensa.
Na época, o então Secretário de Estado da Segurança Pública, Dirceu Cardoso, que estava junto com o juiz da Comarca de Iúna, Mauro Soares de Freitas, e do promotor de Justiça Marco Aurélio Araújo Reis, ao ser indagado pela imprensa no local onde se encontraram os corpos sobre o linchamento, foi curto e grosso: "Vox populi, vox Dei" – a voz do povo é a voz de Deus.
Como sempre, um inquérito policial foi aberto para apontar os culpados pelo linchamento, mas consta-se que ele foi arquivado sem que nenhum dos participantes do ocorrido tenha sido indiciado."
(Texto do linchamento em Ibatida é do jornalista Sérgio Neves, que foi testemunha do tragédia.)
"A cidade de Ibatiba tinha acabado de comemorar o seu terceiro ano de emancipação política. Era uma tarde de sexta-feira, dia 30 de novembro de 1983, quando a tranquilidade dos cerca de 3 mil habitantes à época foi quebrada por sete homens fortemente armados, integrantes da facção criminosa Falange Vermelha, do Rio de Janeiro, que deu origem ao Comando Vermelho. Armados de escopeta, carabina, revólver e ainda uma metralhadora , eles invadiram a agência do Banestes – a única da cidade naquele tempo –, renderam os funcionários e vigilantes e saquearam os caixas e os cofres, levando cerca de CR$ 3,5 milhões de cruzeiros (moeda da época).
Ao saírem da agência, os bandidos encontraram quatro policiais militares que faziam o patrulhamento a pé e começou, aí, a troca de tiros – no tiroteio saíram feridos três policiais e o soldado José Pires de Andrade, 32 anos, casado, pai de duas filhas – uma com 5 e a outra com 3 anos e a esposa grávida de dois meses –, acabou sendo morto pelos marginais que fugiram pela BR-262, que atravessa a cidade. A uma ação durou pouco mais de 20 minutos.
O assassinato do PM comoveu a cidade, ele era bem quisto pela população e tinha recebido uma homenagem na festa pelos serviços prestados ao município. Na fuga , os assaltantes fugiram por Iúna, passando por Guaçuí , Bom Jesus do Norte e seguiram para o Norte do Estado do Rio de Janeiro.
Uma operação conjunta de policiais militares de Campos dos Goytacazes e do 3º Batalhão da PMES (Alegre) resultou nas prisões de cinco dos sete assaltantes, que foram levados para Alegre e depois transferidos para a cadeia de Iúna, já no sábado.
O então delegado de Ibatiba, Joaquim Florindo Neto, decidiu que na segunda-feira o assalto seria reconstituído e a notícia correu pela cidade. Na manhã de segunda-feira, quando os presos chegaram nas proximidades da agência assaltada, cerca de 500 pessoas, armadas de facas, facões, canivetes, martelos, espetos de churrasco e tesouras esperavam os criminosos . À força, eles retiraram os acusados do interior das viaturas da PM e, em menos de 10 minutos, os assaltantes foram linchados pela multidão enfurecida formada por homens , mulheres e até crianças. Uma multidão que não pode ser contida pelo aparato policial.
Após o linchamento os corpos de Severino Sales do Nascimento – fugitivo do sistema penitenciário carioca e condenado a 400 anos de prisão –, Edson Nascimento da Silva –, também fugitivo com pena de 35 anos cumprir –, Roberto do Nascimento Monção – com apenas 18 anos de idade na época, ele já tinha condenação de 564 anos –, José Luiz Nascimento e Roberto da Silva ficaram expostos em um canteiro às margens da BR 262 até a chegada da perícia técnica da Polícia Civil, que saiu de Vitoria, e da imprensa.
Na época, o então Secretário de Estado da Segurança Pública, Dirceu Cardoso, que estava junto com o juiz da Comarca de Iúna, Mauro Soares de Freitas, e do promotor de Justiça Marco Aurélio Araújo Reis, ao ser indagado pela imprensa no local onde se encontraram os corpos sobre o linchamento, foi curto e grosso: "Vox populi, vox Dei" – a voz do povo é a voz de Deus.
Como sempre, um inquérito policial foi aberto para apontar os culpados pelo linchamento, mas consta-se que ele foi arquivado sem que nenhum dos participantes do ocorrido tenha sido indiciado."
(Texto do linchamento em Ibatida é do jornalista Sérgio Neves, que foi testemunha do tragédia.)
"A cidade de Ibatiba tinha acabado de comemorar o seu terceiro ano de emancipação política. Era uma tarde de sexta-feira, dia 30 de novembro de 1983, quando a tranquilidade dos cerca de 3 mil habitantes à época foi quebrada por sete homens fortemente armados, integrantes da facção criminosa Falange Vermelha, do Rio de Janeiro, que deu origem ao Comando Vermelho. Armados de escopeta, carabina, revólver e ainda uma metralhadora , eles invadiram a agência do Banestes – a única da cidade naquele tempo –, renderam os funcionários e vigilantes e saquearam os caixas e os cofres, levando cerca de CR$ 3,5 milhões de cruzeiros (moeda da época).
Ao saírem da agência, os bandidos encontraram quatro policiais militares que faziam o patrulhamento a pé e começou, aí, a troca de tiros – no tiroteio saíram feridos três policiais e o soldado José Pires de Andrade, 32 anos, casado, pai de duas filhas – uma com 5 e a outra com 3 anos e a esposa grávida de dois meses –, acabou sendo morto pelos marginais que fugiram pela BR-262, que atravessa a cidade. A uma ação durou pouco mais de 20 minutos.
O assassinato do PM comoveu a cidade, ele era bem quisto pela população e tinha recebido uma homenagem na festa pelos serviços prestados ao município. Na fuga , os assaltantes fugiram por Iúna, passando por Guaçuí , Bom Jesus do Norte e seguiram para o Norte do Estado do Rio de Janeiro.
Uma operação conjunta de policiais militares de Campos dos Goytacazes e do 3º Batalhão da PMES (Alegre) resultou nas prisões de cinco dos sete assaltantes, que foram levados para Alegre e depois transferidos para a cadeia de Iúna, já no sábado.
O então delegado de Ibatiba, Joaquim Florindo Neto, decidiu que na segunda-feira o assalto seria reconstituído e a notícia correu pela cidade. Na manhã de segunda-feira, quando os presos chegaram nas proximidades da agência assaltada, cerca de 500 pessoas, armadas de facas, facões, canivetes, martelos, espetos de churrasco e tesouras esperavam os criminosos . À força, eles retiraram os acusados do interior das viaturas da PM e, em menos de 10 minutos, os assaltantes foram linchados pela multidão enfurecida formada por homens , mulheres e até crianças. Uma multidão que não pode ser contida pelo aparato policial.
Após o linchamento os corpos de Severino Sales do Nascimento – fugitivo do sistema penitenciário carioca e condenado a 400 anos de prisão –, Edson Nascimento da Silva –, também fugitivo com pena de 35 anos cumprir –, Roberto do Nascimento Monção – com apenas 18 anos de idade na época, ele já tinha condenação de 564 anos –, José Luiz Nascimento e Roberto da Silva ficaram expostos em um canteiro às margens da BR 262 até a chegada da perícia técnica da Polícia Civil, que saiu de Vitoria, e da imprensa.
Na época, o então Secretário de Estado da Segurança Pública, Dirceu Cardoso, que estava junto com o juiz da Comarca de Iúna, Mauro Soares de Freitas, e do promotor de Justiça Marco Aurélio Araújo Reis, ao ser indagado pela imprensa no local onde se encontraram os corpos sobre o linchamento, foi curto e grosso: "Vox populi, vox Dei" – a voz do povo é a voz de Deus.
Como sempre, um inquérito policial foi aberto para apontar os culpados pelo linchamento, mas consta-se que ele foi arquivado sem que nenhum dos participantes do ocorrido tenha sido indiciado."
(Texto do linchamento em Ibatida é do jornalista Sérgio Neves, que foi testemunha do tragédia.)
O País vivia ainda nos anos de chumbo, sob a ditadura militar. Em 1985, a ditadura chegou ao fim e três anos depois o Brasil pode saborear uma nova Constituição, a chamada Constituição Cidadão.
Três décadas se passaram e o descrédito da população capixaba – e do restante do País também – com as instituições aumentou ainda mais. Em menos de um mês o Espírito Santo foi palco de dois linchamentos.
No dia 24 de maio, o motorista de um caminhão João Querino de Paula, 51 anos, foi perseguido por moradores no bairro Morada da Barra, em Vila Velha, depois de atropelar e matar a menina Ávila Fantini, de 2 anos. Um dos linchadores, tio da menina, atirou uma pedra de mais de 10 quilos sobre a cabeça de João Querino, que não teve culpa do acidente e trabalhava como caminhoneiro de uma empresa de material de e construção por 27 anos. O acidente que matou a menina foi uma fatalidade.Quatro dias depois, o lanterneiro Gilmarcam Messine, 24 anos, que havia estuprado e matado a menina Kevelim de Souza, 10 anos, foi linchado até a morte em Vargem Alta.
O verbo linchar no dicionário Aurélio significa “justiçar ou executar sumariamente, sem qualquer espécie de julgamento legal”. Os autores de um linchamento praticam tal barbárie porque estão cansados da impunidade; porque sabem que estão matando alguém que raramente seria punido com rigor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário